Por ironia do destino, um marítimo pode vir a presidir esta subsidiária integral da Petrobras, não pela sua contribuição e de seus asseclas à boa administração da empresa, mas, pela capacidade infinita de se manter subserviente ao príncipe, beijando-lhe a mão diante das necessidades que se apresentem. Necessidades que, para os mais espertos e os tolos que os ouvem, interessados nas migalhas do poder, significam salvar a frota e a Marinha Mercante brasileira. Para os que não são espertos nem tolos, o recado é claro: pretende-se que estejam lá para defender os interesses da banda mais podre do PMDB. Destaque-se que quem aprovará o nome do novo presidente será o Conselho de Administração da Transpetro, cuja vontade, por maioria de voto, atende as determinações do acionista majoritário, ou seja, do governo. Será uma boa ocasião para verificarmos o quanto é verdadeira a disposição do atual governo com a correção de rota em resistência à esta velha senhora chamada corrupção, como bem a definiu a nossa presidente da República.
Detalhe que importa. A candidatura tem apoio da FUP – Federação Única Petroleira, o que se mostra coerente, considerando suas posições e atitudes nesta última dúzia de anos. Nossa sina continua. Nada pior do que madeira do próprio pau.
Esta edição da revista UNIFICAR dá particular atenção à atual situação da Transpetro que, vendendo ou não ativos para participar do plano de desinvestimento da Petrobras, alienará navios em número elevado. No dia 27 de março, o CA da Transpetro aprovou a alienação dos três últimos navios sem casco duplo. E ainda estão na mira mais meia dúzia que não receberam autorização de extensão de prazo para se manterem operando. Teme a Autoridade Marítima brasileira que as leis da física não sejam tão gentis com os mesmos, ao navegarem e operarem. Teme-se que pelo menos uma dezena de navios os acompanhem em curto espaço de tempo. Aqueles que não são espertos nem tolos temem que, no mesmo período, o que sobrou do Promef não entregue sequer a metade do que vai perder-se.
O que acontecerá com centenas de marítimos, candidatos ao desemprego? Serão mantidos em casa pela empresa? Fala sério! Tripulando navios afretados a casco nu com suspensão de bandeira? Pouco provável, diante das prioridades atuais da holding. Irão aos balcões das empresas privadas em busca de emprego? Muito provável. As consequências disto são por demais conhecidas. Já vivenciamos cenário semelhante, na década de 90, que não deixou saudades. Triste é ver rapazes e moças que adentraram neste mercado de trabalho com promessas de que estavam chegando ao paraíso, como se no sistema capitalista esta condição pudesse se perenizar, descobrindo que eram felizes e não sabiam. Ou não quiseram saber, preferindo ouvir as carpideiras de plantão. Objetivamente, a armação privada vive um grande momento. A Antaq divulgou, recentemente, estudo que demonstrou um crescimento da movimentação de granéis em 4% nestes últimos dez anos. Crescimento que, em comparação ao pífio crescimento do Brasil nesta década, impressiona. Que não se fale dos porta-contentores, com crescimento médio de 12% ao ano, percentual que faria inveja à China, em seus melhores dias de crescimento próximo a 10%. E o bunker, amigos? Hoje, a armação não paga sequer a metade que pagava, quando o petróleo estava no mercado muito acima de cem dólares o barril e assim permaneceu por um bom tempo. Hoje, não há razões no horizonte para acreditar que se voltará a este patamar elevado. E os fretes, companheiros e companheiras, as companhias baixaram? Claro que não! E existe outro detalhe a ser observado: com o dólar nas alturas e perspectivas de terminarmos o ano com o dólar americano valendo 3,8 reais, reiniciaremos a era em que nossos salários disputarão, em dólar, o que é pago a um filipino.
Tudo indica que os armadores foram competentes em convencer a nefasta senadora Kátia Abreu, ora Ministra da Agricultura, que todos têm culpa no mau serviço e custos altos prestados aos usuários do necessário transporte marítimo. Daí vêm os projetos de lei de iniciativa desta senhora, que é pau para todo lado e vai de perniciosas alterações ao sistema de ensino profissional marítimo e registro de falta de tripulantes ao desmonte da praticagem, passando pelas habituais lamentações da precariedade da estrutura dos portos nacionais. Em síntese, não vemos como a armação vá sofrer com a decadente situação econômica do país, pelo menos no presente. Possivelmente virá a sofrer algo como consequência, num futuro incerto e não sabido, em decorrência do tamanho da crise que se instale. Para encerrarmos o desenho deste cenário de mar grosso, destacamos a nossa preocupação com esta estúpida campanha midiática a favor do impeachment da presidente da República. Muitos seguem esta bobagem sem ao menos pensar em quem vai substituí-la, no caso desta tese prevalecer, além dos riscos institucionais ao nosso país. Será Michel Temer e seu PMDB, de braços dados com o PSDB, de triste memória, que nos anos 90 tanto prejuízo causou, particularmente, ao nosso setor. A memória nacional nos preocupa devido à sua fragilidade em recordar. Agora ainda mais, com a contribuição das chamadas redes sociais, que seria mais apropriado chamar de bestiais, corroendo a capacidade cognitiva daqueles que são aficionados por elas.
Contudo, a presidente Dilma Rousseff faz por merecer toda esta pressão para mudar. É imperdoável a composição de seu governo, em busca da “governabilidade”, tendo como exemplos mais gritantes um carrasco social, como Joaquim Levy, na Fazenda, e uma sacripanta, como Kátia Abreu, na Agricultura. Some-se a isto a triste carência de coragem na defesa a um ministro, como Cid Gomes, afastando-o do Ministério da Educação, após este admirável político demonstrar coragem em apontar o que importava ao recém-eleito presidente da Câmara do Deputados, Eduardo Cunha. Anotem: nosso país ainda terá muito mais a lamentar do que o fato de este senhor constar em lista de envolvimento em escândalos de corrupção.
Quanto à velha senhora chamada corrupção, o PT a abraçou com carinho, compreensão e justificativas. Com imperdoável incoerência diante do que a sociedade esperava do Partido dos Trabalhadores. Terminou por nos presentear com mais do mesmo, nos oferecendo corrupção por varejo, para delírio da compromissada e conservadora grande imprensa. Quando os velhos partidos de direita nos empurravam e empurram corrupção por atacado, recebem o beneplácito da mesma imprensa que, em geral, é vil e desonesta. As raras exceções existentes só confirmam a regra.
Enfim, meus companheiros e minhas companheiras, naveguemos em capa, sem esmorecermos, confiando em nossa vocação para vitórias e em nossa coragem marinheira.