A união faz a força. E foi assim que nós, marítimos e marítimas brasileiros, conquistamos mais uma importante vitória. A intensa mobilização e participação de todos os companheiros e companheiras de terra e de mar vinculados à Transpetro foram deisivas para eleger, mais uma vez, um Marítimo como representante dos trabalhadores no Conselho de Administração (CA) da Transpetro, subsidiária da Petrobras. Desde 2013, quando o conselho passou a incluir um representante dos trabalhadores da empresa, este posto vem sendo ocupado por um marítimo.
O eleito foi o Capitão de Longo Curso (CLC), Comandante Raildo Viana do Nascimento Júnior, 34 anos, candidato apoiado pelo SINDMAR que venceu o pleito já no primeiro turno, com ampla maioria. Ele recebeu 1.149 votos (55,86% do total de votos), enquanto o segundo candidato obteve 356 votos (17,31%) e o terceiro candidato obteve 206 votos (10,01%), respectivamente. O resultado foi referendado em 26 de janeiro passado. Ele assume como conselheiro representante dos empregados da Transpetro no lugar do CLC Carlos Augusto Müller, que ocupou o cargo por dois mandatos consecutivos, em 2013 e 2014.
A vitória do CMT Raildo acontece em um momento de grande expectativa quanto aos rumos da empresa – até mesmo a composição completa do Conselho de Administração que assumirá em abril é ainda uma incógnita – e se reveste de importância não só pelo fato de o representante dos empregados ser, novamente, um marítimo, mas pela responsabilidade que lhe caberá de levar os anseios de toda a força de trabalho da Transpetro, de mar e de terra, ao seu Conselho.
O Comandante Raildo iniciou sua carreira na Transpetro há mais de 10 anos, como estagiário no navio Caravelas (em 2002), passando por diversas funções até chegar ao cargo atual. Em 2011, já Capitão de Cabotagem, assumiu pela primeira vez o comando de uma embarcação, o navio Nara. Como representante dos trabalhadores no CA da Transpetro, ele já adiantou que pretende atuar com independência, garantindo que haja transparência e fiscalização permanentes em todos os níveis da empresa e coibindo ações antiéticas. A valorização dos empregados efetivos da Transpetro, para que estes possam ocupar postos estratégicos na companhia, com base na meritocracia, também está entre as metas do Comandante, além da criação de mais vagas de trabalho para os marítimos.
Confira a seguir a entrevista que o CMT Raildo concedeu à Revista UNIFICAR sobre sua eleição:
– Um fato preocupante, no presente momento, diz respeito às regras e exigências atuais do STCW sobre o casco duplo, que têm obrigado a Transpetro a se desfazer de seus navios mais antigos. Com esta perspectiva, temos uma frota que, nos próximos dois anos, deverá contar com menos de duas dezenas de navios. Você acredita que é possível levantar, de forma significativa, a discussão deste problema no Conselho de Administração da Transpetro?
– Esta possibilidade de redução do número de navios é uma preocupação nossa que vem se acentuando, porque a previsão de entrega de navios novos não se confirmou. Não chegamos ao número de navios que se esperava para o ano de 2014 e, por outro lado, a venda de navios por força de adequações às legislações só agrava o quadro. Vamos atuar, no âmbito do CA da Transpetro, com a força do trabalhador, como a sua voz, argumentando e demonstrando, na mesa de negociação com os nossos pares, que se não houver uma mudança neste rumo, num futuro bem próximo teremos nossa frota reduzida, em vez de ter mais de uma centena de navios, como projetou-se há alguns anos. Com certeza a busca de soluções efetivas para mudar esta situação será um dos principais focos da nossa atuação no CA da Transpetro.
– Ainda em relação à mesma situação – o envelhecimento e encolhimento de nossa frota – o aumento do número de afretamentos, ocupando o espaço que se pretendia ver atendido por navios próprios, ao mesmo tempo em que nota-se o sensível aumento do prazo de afretamentos, nos traz uma leitura preocupante de mudança de política referente à manutenção de frota própria. É sua intenção propor a discussão, dentro do Conselho de Administração, de uma política realmente voltada ao incremento da frota própria, que implemente medidas ou iniciativas eficazes para criar as condições favoráveis à retomada do desenvolvimento de nossa frota própria?
– Esta situação, conforme respondido na pergunta anterior, tem gerado uma grande preocupação entre os trabalhadores marítimos, uma vez que ter menos navios significa menos postos de trabalho na Transpetro, não só de marítimos, mas, também, de empregados na administração em terra. É uma situação que já nos preocupava antes mesmo de chegarmos ao Conselho de Administração. O prolongamento dos prazos de afretamento, aliado ao atraso na entrega de navio é um ponto crucial ao desenvolvimento do nosso país, que precisa ser amplamente debatido e revisto pelo Conselho. No momento, temos menos navios próprios, operando em águas sob jurisdição brasileira, mais navios afretados e mais tripulantes estrangeiros operando em águas nacionais. Isto nos preocupa e precisamos ter uma resposta a altura daquilo que nós esperamos. Pretendemos colocar em pauta não só a aceleração da entrega dos navios previstos, mas também queremos discutir, de maneira transparente, a intenção da companhia em relação ao aumento significativo e o prolongamento de afretamentos de navios em território nacional.
“O resultado que obtivemos nesta eleição, que culminou com a vitória em primeiro turno, foi a soma da força que vem do mar, que se mobilizou para eleger seu representante, e, também, do apoio expressivo que tivemos em terra”
– Como membro do Conselho de Administração, você representa todos os empregados e empregadas vinculados à Transpetro, de mar e de terra. Como você planeja promover a interlocução com a representação sindical do pessoal de terra para que este se sinta plenamente representado?
– O resultado que obtivemos nesta eleição, que culminou com a vitória em primeiro turno, foi a soma da força que vem do mar, que se mobilizou para eleger seu representante, e, também, do apoio expressivo que tivemos em terra. Isto significa que temos a obrigação de representar a força de trabalho como um todo. Vamos interagir, constantemente, com as legítimas representações sindicais da nossa força de trabalho e levar à mesa do Conselho de Administração seus principais anseios. Para que isso aconteça, estamos abertos, individualmente e coletivamente, para fortalecer esta interação com as representações sindicais e garantir que os temas sejam colocados em pauta para deliberações durante as reuniões do CA.
“Acredito firmemente na colaboração dos colegas que, hoje, exercem funções gerenciais em terra, pois não cabe duvidar que o interesse maior deles não pode ser outro senão a perenidade da nossa companhia”
– Hoje, grande parte, senão a maioria, dos cargos da alta administração da Transpetro relacionada ao transporte marítimo, é ocupada por Oficiais, Capitães de Longo Curso, Oficiais Superiores de Máquinas. Pessoal com larga experiência na alta administração de bordo. Você acredita que, durante o exercício do seu mandato, seus colegas podem ajudá-lo a ter maior compreensão dos principais problemas internos da empresa, contribuindo para melhorias na condução desses assuntos?
– Acredito firmemente na colaboração dos colegas que, hoje, exercem funções gerenciais em terra, pois não cabe duvidar que o interesse maior deles não pode ser outro senão a perenidade da nossa companhia. Logo, a interação com estes gestores é uma necessidade permanente, para que possamos defender, de modo efetivo, no Conselho de Administração, as questões relacionadas à nossa força de trabalho. Por isso, conto com a colaboração destes companheiros para a troca constante de informações e experiências.
– As pautas das reuniões do Conselho de Administração da Transpetro são previamente definidas e chegam fechadas para a discussão dos conselheiros. É comum haver resistência a qualquer alteração destas pautas. Sendo assim, você pensa que é possível promover a inclusão de itens do interesse do trabalhador, do empregado da Transpetro, com o futuro da empresa, nessas pautas?
– Como é sabido, o Conselho de Administração é formado por seis pessoas: quatro altos executivos da Petrobras – sendo presidido, geralmente, pelo presidente da própria Petrobras –, um representante do governo federal, atualmente do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e um representante dos empregados. Mantidas à parte as restrições que nos impedem de levar ao Conselho questões, como as ligadas a reivindicações salariais, entre outras, nosso maior desafio será sempre o de sensibilizar este colegiado da importância de determinados problemas, para que sejam levados à mesa de discussão. Do contrário, sozinho, o voto do representante dos trabalhadores será um voto vencido. Nossa responsabilidade, nossa obrigação passa por esta sensibilização, passa por traduzir, da melhor forma possível, os anseios dos nossos companheiros aos demais que compõem o Conselho.
– Por falar em responsabilidade, qual o tamanho da responsabilidade de ser um marítimo a representar os trabalhadores da Transpetro?
– O tamanho desta responsabilidade aumentou, significativamente, em relação aos anos anteriores, pois tínhamos uma perspectiva de crescimento para todo o sistema Petrobras – na área marítima temos o Promef, além do aumento e das adequações em alguns terminais para atender o crescimento da produção oriunda do pré-sal. No entanto, a conjuntura atual demonstra que haverá uma redução nos investimentos que, certamente, impactará também a Transpetro. Assim, vejo que a minha responsabilidade como conselheiro cresceu de forma exponencial, o que reforça a importância de ouvir a todos. Ou seja, ouvir os colegas marítimos, que exercem função gerencial em terra, os que estão a bordo e, com especial atenção, os representantes sindicais de mar e de terra, devido às suas experiências e, principalmente, pelo entendimento que têm de que todos devemos zelar pelos interesses dos empregados da companhia. Assim, tenho a obrigação de representar à altura os empregados da Transpetro no CA, pois o tempo vai passar e as pessoas talvez não lembrem o que o Raildo ou o Müller fizeram, mas vão lembrar que ali esteve um representante, oriundo do quadro do mar, que os representou dignamente. Até onde me for possível, darei o meu melhor para representar, com transparência e ética, a nossa classe. Podem ter certeza!