Com informações enviadas de Oslo (NO) e Genebra (CH)
Durante a Nor-Shipping – feira considerada um dos principais eventos marítimos internacionais e importante fórum global para a indústria do setor – realizada na semana passada, na Noruega, a Gerência de Contratos de Afretamento da Petrobras anunciou ter uma grande demanda por navios estrangeiros e propôs, ainda, um formato de contratação que vai contra os interesses do Brasil.
Em um dos slides apresentados, é possível verificar, claramente, a demanda de afretamento anunciada pela empresa, com mais de 100 navios a serem contratados por tempo (TCP) e mais de 200 por viagem (VCP).
Como se vê, a política da Petrobras continua orientada pelos rumos ditados pela gestão anterior, sem considerar a possibilidade de construção naval no Brasil. Não há demonstração efetiva de compromisso da logística da companhia, até aqui, com a geração de emprego e renda no nosso país.
Ao que tudo indica, se não ocorrer uma atuação mais firme do governo na implementação de uma política consistente de desenvolvimento nacional, o Brasil não verá a indústria local decolar e empregos em boas condições serem gerados.
A gerência de afretamentos da Petrobras se destaca pela geração significativa de riqueza, desenvolvimento e empregos em outros países, deixando os interesses nacionais à margem.
Segundo relatos de brasileiros convidados para o evento, a apresentação da área de afretamento da Petrobras foi vista como um escárnio aos interesses nacionais, merecendo ser denunciada e investigada.
A apresentação incluiu orientações especiais aos armadores estrangeiros para se cadastrarem no sistema Petronet, para terem mais efetividade na disputa pelos contratos.
Ao término da palestra, a representação foi cercada por brokers estrangeiros, corretores que atuam no fechamento desses contratos.
Brasileiros assistiram estarrecidos à mensagem clara da gerência da Petrobras: “Armadores estrangeiros, queremos vocês no Brasil, na nossa cabotagem”.
O resultado dessa política lesiva à nação é evidente. Segundo levantamento recente da Antaq, enquanto no setor de conteineres as empresas privadas alcançam bons resultados com 96% do transporte sendo realizado por navios brasileiros, no setor de petróleo apenas 5% da carga de cabotagem foi transportada por navios nacionais, num cenário em que as cargas da Petrobras representam mais de 70% de tudo o que se transporta pela cabotagem.
O presidente do Sindmar e secretário de relações internacionais adjunto da CTB, Carlos Müller, avalia que há claro desalinhamento nas atividades desenvolvidas internacionalmente por gerentes da área de afretamento da Petrobras em relação às orientações do governo do Brasil – que vão no sentido de revitalizar a indústria nacional e gerar empregos de qualidade no nosso país.
“As contratações da Petrobras que priorizam afretamentos de bandeira estrangeira no setor marítimo trazem impactos à nossa soberania e podem afetar de forma significativa a geopolítica regional. Não é possível que tais decisões continuem sendo tomadas por gerentes sem compromisso algum com o futuro do Brasil“, declara Müller.