A participação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos (Conttmaf) no 46º Congresso da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF), realizado entre os dias 13 e 19 de outubro em Marraquexe, no Marrocos, foi marcada por importante aumento de nossa influência na política sindical internacional. A Conttmaf, as suas federações e os seus sindicatos passaram a ter cargos em diferentes comitês da entidade que reúne 740 sindicatos e representa 18,5 milhões de profissionais em 150 países.
Os dirigentes eleitos na ITF terão um mandato de cinco anos (2024-2029). Entre os principais destaques podemos citar que pela primeira vez uma sindicalista marítima brasileira fará parte do Comitê Global de Gente do Mar da ITF com a nomeação da diretora para Assuntos de Gênero e Juventude da Conttmaf, Lorena Pintor Silva, eleita neste Congresso por sindicalistas marítimos de todo o mundo. Com isso, ela garantiu, também, a cadeira das marítimas no Comitê Global de Mulheres Trabalhadoras da entidade. Além de Lorena, o presidente da Conttmaf e do Sindmar, Carlos Augusto Müller, teve o seu nome ratificado como membro do Comitê Global de Marítimos pela América Latina e o Caribe.
“Isso nos enche de orgulho, mas também de muita responsabilidade. Estar à frente destes comitês vai nos permitir acompanhar as discussões relacionadas à participação feminina na marinha mercante de uma forma mais abrangente, em nível mundial, o que certamente contribuirá para a nossa luta contra o bullying, o assédio e qualquer forma de discriminação de gênero, além de proporcionar um ambiente de trabalho seguro e saudável para as marítimas. O Brasil figura hoje entre os países com o maior número de mulheres trabalhando embarcadas, mas ainda somos apenas 12,8%”, declarou Lorena Silva.
O presidente da Federação Nacional dos Estivadores (FNE), José Adilson Pereira, o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Afins (FNTTAA), Ricardo Ponzi, e o seu vice-presidente, Luis Penteado, tiveram os seus nomes ratificados como representantes eleitos pela América Latina e Caribe nos comitês globais de Portuários, de Trabalhadores na Navegação Interior e de Trabalhadores na Pesca, respectivamente.
No recém-criado Comitê Global de Armazenamento, Distribuição e Logística, que engloba todos os modais de transporte, a Conttmaf apresentou o nome de um dos dirigentes do Sindmar, Gustavo Cardoso, eleito no Congresso. Além disso, por meio de diálogo entre as representações sindicais de Brasil e Argentina, haverá um mandato compartilhado no Comitê Global de Jovens. Nos primeiros dois anos e meio, o presidente do Sindicato Nacional dos Tripulantes Não Aquaviários em Embarcações Marítimas (Sindextrarol), Marcus Balbino, será membro do comitê e, na sequência, o dirigente do Sindicato dos Aeroviários da Argentina (UPSA), Daniel Lico, assumirá os trabalhos pelo restante do mandato. O secretário-geral do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Clauver Castilho, que teve o seu nome ratificado na presidência da Seção de Jovens da ITF na América Latina e Caribe, teve importante papel nas negociações desta construção de brasileiros e argentinos.
Já o Comitê Global Conjunto de Marítimos e Portuários – categorias que fundaram a ITF – possui um órgão de governança global responsável por elaborar políticas para o setor, tais como a política defesa da cabotagem e a campanha contra as bandeiras de conveniência, além de aprovar acordos coletivos da ITF, denominado Comitê de Práticas Aceitáveis (FPC), para o qual são eleitos 127 marítimos e portuários de todo o mundo. Nele, o Brasil terá três representes: José Adilson Pereira, estivador, presidente da FNE, e Carlos Augusto Müller, marítimo, presidente do Sindmar, ratificados como membros ex officio por terem sido eleitos presidentes regionais de portuários e de marítimos, respectivamente, na América Latina e Caribe. Além disso, pela primeira vez, o Brasil terá uma mulher no FPC, tendo sido eleita para a vaga Cecília Rodrigues, representante brasileira pela FNTTAA.
Para o Comitê Executivo, órgão de governança da ITF no qual participam 42 lideranças sindicais dos trabalhadores em transporte de todo o mundo, foi eleito Carlos Müller (marítimo da Conttmaf), Janaína Fernandes (ferroviária da FNTF) e Paulo Eustasia (rodoviário da CNTTL). Ao final do Congresso, os membros do comitê executivo elegeram a nova presidência da Federação Internacional. Pelos próximos cinco anos, a entidade terá uma gestão compartilhada entre o seu atual presidente, Paddy Crumlin (MUA, da Austrália), que atuará na primeira metade do mandato, e o presidente do sindicato belga de trabalhadores em transportes (BTB-ABVV), Frank Moreels. O Congresso da ITF confirmou, ainda, a reeleição de Stephen Cotton no cargo de secretário-geral e de Rob Johnston como secretário-geral adjunto.
“Com uma participação renovada e fortalecida dos sindicatos brasileiros dentro da ITF, especialmente os da Conttmaf, esperamos dar voz às demandas dos trabalhadores em transporte do Brasil e da América Latina no cenário internacional, pois nos países localizados no hemisfério Sul, em razão das diferenças culturais e econômicas existentes, muitas vezes elas não coincidem com aquelas encontradas pelos nossos companheiros nos países do Norte global. Buscaremos influenciar nos organismos internacionais nos quais a ITF tem assento para que a nossa realidade seja também considerada na elaboração de convenções internacionais, resoluções e outros instrumentos elaborados nessas instâncias que afetam o trabalho e a vida de nossos representados”, registrou Müller.
Os próximos passos
Ao fim do Congresso, o Comitê Executivo da ITF aprovou a agenda de reuniões para o período de 2024 a 2029. Os encontros do grupo acontecem, pelo menos, duas vezes ao ano. Carlos Müller aproveitou a oportunidade para propor que um dos encontros seja realizado no Brasil, no segundo semestre de 2025, observando que o País estará em preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), prevista para ocorrer em novembro do ano que vem em Belém (PA), ocasião em que reunirá representantes de todo o mundo. Neste contexto, cabe ressaltar que a busca por uma transição energética justa no setor inclui, também, o desenvolvimento sustentável voltado para a questão social, com mudanças feitas de forma a atender às demandas dos trabalhadores – um dos objetivos aprovados para orientar a atuação da ITF nos próximos anos.
“Avaliamos que, trabalhando juntos, as entidades sindicais que representam trabalhadores em transporte no Brasil têm condições de programar uma série de eventos para sinalizar o caminho até a COP 30, dialogando internamente com o Fórum das Centrais Sindicais para que as preocupações dos nossos representados com uma transição energética justa possam ser adequadamente discutidas nos diferentes setores de transportes”, afirmou o presidente da Conttmaf.