O ingresso das mulheres nos cursos de formação das carreiras profissionais marítimas só foi permitido no Brasil no fim do século passado, após grande articulação das entidades sindicais de trabalhadores do setor com parlamentares, o governo e a Marinha do Brasil. Até então, a legislação privilegiava o acesso apenas de homens à profissão, numa situação conflitante com a Constituição Federal de 1988 e a Convenção 122 da OIT, ratificada pelo país.
Embora configurem a maioria da população brasileira, as mulheres ainda não passam de 13% do total de oficiais e eletricistas mercantes, o que faz com que o Sindmar busque em seu plano de atuação viabilizar condições para o fortalecimento da presença feminina a bordo.
Na ausência de lei que contemple condições para as mulheres conciliarem a carreira marítima com a maternidade, a ação firme do Sindmar na negociação de acordos coletivos de trabalho possibilitou a conquista de uma cláusula específica para as marítimas gestantes.
Para terem ainda mais voz e poder na busca de soluções para as questões que lhes afetam mais diretamente na vida laboral, é fundamental que as oficiais e as eletricistas procurem o Sindmar e participem do Sindicato como associadas.
Diretora do Sindmar e da Conttmaf, a oficial de náutica Lorena Pintor conhece a realidade da mulher marítima e serve de ponto de contato e acolhimento para as representadas do Sindmar.
“Num dia como hoje, é impossível não refletir sobre tudo que enfrentei desde que pisei em um navio pela primeira vez, em 2005. Éramos pouquíssimas mulheres num ambiente que não foi preparado para nos receber. Não raro, eu era a única presença feminina numa tripulação de quase 30 pessoas. Já ouvi de um comandante estrangeiro que eu teria de fazer o dobro do que um homem fazia para provar minha competência. Por ironia do destino, pouco tempo depois evitei um incidente grave e esse mesmo comandante ficou agradecido, tendo mudado totalmente o comportamento comigo”, lembra Lorena.
Mãe de dois filhos, a sindicalista dedica especial atenção às questões familiares das marítimas. “Além dos desafios inerentes ao trabalho no mar, nós ainda temos de conciliar a profissão com a gestação, a amamentação e os cuidados com os filhos pequenos. Nas minhas visitas a bordo, como dirigente sindical, explico às companheiras que elas têm na atuação do Sindmar uma ferramenta importantíssima para garantir os seus direitos”, relata.
Lorena acredita que o aumento no número de mulheres sindicalizadas é imprescindível para o fortalecimento da unidade e da ajuda mútua entre elas.
“Ser sindicalista marítima, para mim, é um desafio renovado todos os dias, desbravando um campo pelo qual as mulheres podem e devem se interessar mais. Espero que um número cada vez maior de companheiras se interesse em participar do Sindicato e em contribuir com a nossa categoria”, conclui Lorena.