A presidente foi afastada, os envolvidos estão sendo investigados, alguns já foram presos, mas as tentativas de desqualificar a Petrobras não param. Mas a sociedade começa a reagir. Intelectuais, como Marilena Chauí, Cândido Mendes, Fabio Konder Comparato, João Pedro Stédile, Leonardo Boff, Luiz Pinguelli Rosa e Maria da Conceição Tavares, divulgaram manifesto denunciando “a clara tentativa de golpe contra o governo e a empresa” e que mais parece uma “tentativa de golpe por parte da oposição e da mídia”. Intelectuais, jornalistas, ex-ministros, sindicalistas e povo se unem para denunciar tentativa de golpe contra a Petrobras.
“Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500 mil empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial.”
O documento assinado pelos intelectuais foi divulgado no dia 20 de fevereiro e destaca ainda que “há uma clara tentativa de destruir a empresa e seus fornecedores, levando a uma mudança do modelo que rege a exploração de petróleo no país”.
“Há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha.”
O texto chega a comparar a situação com o que aconteceu no golpe de 1964, que culminou na ditadura militar.
“O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição.”
Quanto vale a Petrobras?
Os colunistas de jornais também. No site do Jornal do Brasil, o jornalista Mauro Santayanna no longo artigo “Quanto vale a Petrobras”.
“Quanto vale a luta, a coragem, a determinação, daqueles que, em nossa geração, foram para as ruas e para a prisão, e apanharam de cassetete e bombas de gás, para exigir a criação de uma empresa nacional voltada para a exploração de uma das maiores riquezas econômicas e estratégicas da época, em um momento em que todos diziam que não havia petróleo no Brasil, e que, se houvesse, não teríamos, atrasados e subdesenvolvidos que somos, condições técnicas de explorá-lo? Quanto vale a formação, ao longo de décadas, de uma equipe de 86 mil funcionários, trabalhadores, técnicos e engenheiros, em um dos segmentos mais complexos da atuação humana?”
E alertou:
“Por que, enquanto virou moda — nas redes sociais e fora da internet — mostrar desprezo, ódio e descrédito pela Petrobras, as mais importantes empresas mundiais de tecnologia seguem acreditando nela, e querem desenvolver e desbravar, junto com a maior empresa brasileira, as novas fronteiras da tecnologia de exploração de óleo e gás em águas profundas?”
Finalizando:
“A Petrobras não é apenas uma empresa. Ela é uma Nação. Um conceito. Uma bandeira. E por isso, seu valor é tão grande, incomensurável, insubstituível. Esta é a crença que impulsiona os que a defendem. E, sem dúvida alguma, também, a abjeta motivação que está por trás dos canalhas que pretendem destruí-la.”
Contexto maior
O ex-Ministro dos governos militares, Delfim Neto, que de Esquerda não tem nada, escreveu no jornal Folha de S. Paulo, que também não morre de amores pelas causas vanguardistas.
“Por que, então, estranhar a escolha de dois excelentes administradores financeiros, os senhores Aldemir Bendini e Ivan de Souza Monteiro, testados com sucesso numa organização gigantesca, eficiente e de alta qualidade profissional, o Banco do Brasil? Por que, afinal, eles precisam “entender” de petróleo como pediu o tal “mercado”, se têm na diretoria técnicos que cresceram na Petrobras e entendem dele?”
Até mesmo o jornal O Globo abriu espaço para o escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo escrever em seu artigo “O contexto maior”:
“Do ponto de vista da eternidade, nada do que está sendo revelado, em capítulos diários, sobre o propinato na Petrobras e os partidos políticos que beneficiou deixa de ser grave, mas é impossível não ver o cerco à estatal do petróleo no contexto maior da velha guerra pelo seu controle, que já dura quase 70 anos, desde que a Petrobras venceu a primeira batalha, a que lhe permitiu simplesmente existir, quando diziam que nunca se encontraria petróleo no Brasil. Mais do que em qualquer outra frente de confronto entre conservadores e progressistas e direita e esquerda no Brasil, na luta pela Petrobras, e por tudo que ela simboliza além da exploração de uma riqueza nacional, se definem os lados com nitidez. A punição dos responsáveis pelos desvios que enfraqueceram a estatal deve ser exemplar e todos os partidos beneficiados que se expliquem como puderem, mas que se pense sempre no contexto maior, no qual a sobrevivência da estatal como estatal, purgada pelo escândalo, é vital.”
A voz dos leitores
O artigo de Verissimo gerou polêmicas entre leitores de jornais e sites. Um deles escreveu:
“Verissimo na mosca, em relação ao contexto que estamos vivendo. A Petrobras luta contra tudo e contra todos desde 1953 e está aí, ainda a despertar cobiça (cada vez mais) e vai continuar. Não será um grupelho de entreguistas, golpistas, traidores do Brasil que irá interromper a trajetória da empresa e do país. Só estão dando dor de cabeça. Em compensação, vão sendo desmascarados um por um, a cada gesto, decisão, declaração e ‘aparecimento’ sob holofotes.”
Como era previsível, incomodou bastante também os “profetas do Apocalipse” de uma certa revista conhecida por sua irresponsabilidade e leviandade. Um dos arautos da turma, que faz de tudo para denegrir a imagem do partido do Governo e de tudo que pode ser posicionado à Esquerda, envenenou:
“O leitor tem o direito de achar que pego no pé de Verissimo, ou então que dou muita trela para alguém que deveria simplesmente ser ignorado quando resolve sair das crônicas do cotidiano para falar de política. Mas discordo. Acho que o filho de Érico é um ícone perfeito da postura de nossos ‘intelectuais’ de esquerda, e que justamente por isso ele pode ser usado para representar todo o fracasso de uma geração ‘progressista’. Em sua coluna de hoje, Verissimo vestiu o chapéu de defensor da estatal Petrobras, e como o homem ‘matou’ a Velhinha de Taubaté só para não criticar o governo do PT, claro que sua análise iria suavizar, aliviar, relativizar e inocentar até a bandalheira que o partido montou dentro da maior empresa nacional. A tática é velha e conhecida: algumas poucas concessões aos críticos, para simular imparcialidade, e logo depois um enorme ‘mas’, que serve justamente para proteger os culpados.”
Em defesa da Petrobras
Pior, impossível. A tática dessa gente é velha e conhecida. Vem dos tempos da Ditadura Militar. Pelo País foram convocados diversos protestos. No Rio, uma manifestação organizada pela CUT e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi tumultuada por um grupo de ativistas, que chegaram com cartazes cobrando investigações na estatal. O encontro teve a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No manifesto dos organizadores do ato, o grupo destacou que há uma “campanha visando à desmoralização da Petrobras, com reflexos diretos sobre o setor de Óleo e Gás, responsável por investimentos e geração de empregos em todo o País; campanha que já prejudicou a empresa e o setor em escala muito superior à dos desvios investigados”.
É como disse a diarista (ou secretária do lar, se preferirem) de um certo repórter de tv, no auge de sua sabedoria que é adquirida no dia a dia das ruas, ao comentar com a “patroa progressista”
“As pessoas ficam comentando a respeito de tudo o que está acontecendo na Petrobras mas a questão é que todos esses anos ninguém fez nada para investigar. Dilma pelo menos está trazendo à tona e investigando.”