Uma das vantagens para os trabalhadores que contam com uma Organização Sindical articulada, como é o caso dos marítimos, é a possibilidade de antecipar informações relativas ao nosso setor.
Ao longo das últimas décadas, a atuação da CONTTMAF, da FNTTAA e dos Sindicatos Marítimos que as integram nos possibilitou realizar análises de cenários, muitas vezes complexos e desafiadores, de forma que os trabalhadores representados tivessem acesso a informações importantes para pautar a luta em defesa de nossos interesses coletivos. A atuação dos Sindicatos Marítimos tem se mostrado essencial para garantir a existência de postos de trabalho de qualidade para brasileiros em nossa indústria marítima.
O motivo deste texto é alertar os marítimos brasileiros para mais uma perigosa investida da armação contra nossos empregos. Sem fazer alarde, o Syndarma e suas associações coirmãs vêm se dedicando a convencer governo e usuários do transporte marítimo daquilo que eles denominaram “agenda positiva”. Um dos pontos dessa agenda diz respeito aos nossos empregos. Recomendamos a todos que se dediquem à leitura do que relatamos e que procurem divulgar este conteúdo entre seus colegas de trabalho.
Tomamos conhecimento de iniciativas da armação brasileira no sentido de mobilizar setores da indústria e do agronegócio na criação de uma agenda comum, procurando demonstrar que podem obter ganhos se atuarem juntos em defesa de interesses convergentes. Para possibilitar a compreensão do que ocorre, inclusive àqueles que porventura não estejam convencidos das intenções de nossos empregadores com relação aos marítimos nacionais, incluímos nesta mensagem a reprodução de um slide que é parte do material que os armadores vêm utilizando para divulgar as ações que pretendem pautar. Abaixo, trecho de uma apresentação do Syndarma e da Abac.
Como está claro acima, não apenas defendem abertamente a troca de marítimos brasileiros por estrangeiros, como propõem uma “correção” da política de pleno emprego, permitindo a formação sem limites de mão de obra. Para os que imaginam que escaparão do corte por desempenharem funções de comando ou chefia, enfatizamos que devem aguardar discursos de preocupação quanto à segurança operacional por conta do idioma da tripulação, agravada pelo fato de que em médio prazo não haverá Comandantes e Chefes de Máquinas brasileiros tendo em vista que toda uma carreira lhes é exigida após saírem da Escola. Não havendo carreira, também não haverá experientes Comandantes e Chefes para assumirem essas funções a bordo.
Mas não é só isso!
A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina – Fiesc conduziu recentemente um estudo sobre o futuro da Cabotagem. No capítulo em que os obstáculos para a promoção da Cabotagem são analisados, o documento incorpora o discurso dos armadores, citado a formação de pessoal como fator impeditivo ao lucro. A Fiesc alega, ainda, que haveria falta de mão de obra no setor marítimo.
É preciso muita desfaçatez para, num momento em que o desemprego grassa, virem falar em escassez de mão de obra. Diante do enorme contingente de desempregados no Brasil, situação que não é diferente no setor marítimo, a Fiesc passa atestado de total desconhecimento do mercado de trabalho marítimo, ou está participando de um esforço para construir um discurso alternativo à realidade, com objetivo de obter vantagens para o setor que representa, desprezando os marítimos que procuram e não encontram vagas para empregar-se na cabotagem.
Ademais, desejam que tenhamos poder aquisitivo apropriado para vivermos em Vanuatu ou nas Filipinas. Os lucros querem ter no Brasil. Pagar salários, não. Nós é que vivamos noutro canto do mundo!
Estejam certos de que a Organização Sindical Marítima brasileira não deixará de articular-se e de lutar vigorosamente contra as infames iniciativas que demonstram o nível de desprezo com que a armação instalada no Brasil, mas sob controle acionário de armadores estrangeiros, trata o emprego de marítimos brasileiros em águas brasileiras. Nunca tivemos dúvidas de que empregar brasileiros não fosse uma prioridade e nem mesmo opção que agradasse a esses armadores.
UNIDADE E LUTA!