No Brasil, há pelo menos três datas comemorativas, ao longo do ano, que eventualmente acabam sendo relacionadas aos marítimos:
25 de Junho – Dia Internacional do Marítimo, criado pela Conferência de Manila, em 2010, na revisão do STCW, como reconhecimento à contribuição única dos marítimos de todo o mundo para o comércio marítimo internacional, para a economia mundial e para a sociedade civil como um todo.
27 de Setembro – Dia Marítimo Mundial, criado pela IMO em 1978, no 20º aniversário da organização, para chamar a atenção para a importância da segurança marítima e da proteção do ambiente marinho. Cada país tem liberdade para definir nacionalmente a data.
28 de Dezembro – Dia da Marinha Mercante Brasileira, decretado pelo primeiro-ministro Tancredo Neves, em 1962, na data de nascimento do Visconde de Mauá, patrono da Marinha Mercante, para valorizar aqueles que contribuem de forma especial para o desenvolvimento de nosso país.
Em decorrência, talvez, da existência de diferentes datas relacionadas a temas similares, ocorre alguma confusão sobre o que se tem a comemorar em cada uma delas. Assim, acabamos vendo, todos os anos, marítimos demonstrando entusiasmo por um evento criado por quem não demonstra compromisso efetivo com a existência de marítimos trabalhando em boas condições e recebendo remunerações compatíveis com as responsabilidades que desempenham na atividade de transporte marítimo.
Há uma gritante incoerência no comportamento da Organização Marítima Mundial – IMO. Quem diz ser responsável por promover segurança da navegação e proteção do meio ambiente deveria se impor a estabelecer limites à exploração dos homens e mulheres do mar que, da primeira à última análise, contribuem para que tenhamos uma atividade mais segura. Os marítimos, por mais que se esforcem, não conseguirão identificar a existência de real preocupação com a segurança quando se estabelecem regras que permitem embarcações de apoio marítimo, que realizam delicadas operações nos campos petrolíferos, operarem tendo suas praças de máquinas guarnecidas por apenas dois Oficiais trabalhando em revezamento por longos dias – apenas para ilustrar com uma referência clara.
Enquanto a IMO não demonstrar compromisso efetivo com a segurança e com o respeito ao direito dos marítimos de trabalharem nesta atividade, em condições justas, em suas próprias águas nacionais, não faz sentido que os marítimos se entusiasmem com a comemoração do Dia Marítimo Mundial. O entusiasmo apenas legitima o que não deveria existir.
Dia marítimo por dia marítimo, temos, há mais de meio século, o nosso próprio Dia da Marinha Mercante Brasileira, aquele decretado por Tancredo Neves em 1962, em um momento delicado da nossa história político-democrática, estabelecendo o 28 de dezembro, data de nascimento do Visconde de Mauá – patrono da Marinha Mercante brasileira, como data apropriada para reconhecer o valor daqueles que contribuem de forma muito especial para o desenvolvimento de nosso país. Na ausência cada vez maior de armadores de capital nacional e de embarcações arvorando nosso pavilhão, resta o nosso marítimo como o que, de fato, ainda se pode reconhecer como Marinha Mercante genuinamente brasileira.
Comemorar o Dia Marítimo Mundial da IMO e se entusiasmar com pequenos pedaços de metal e fita colorida que podem ser oferecidos às dúzias nesta data, para satisfação de orgulhos individuais, representa um contrassenso diante da gritante falta de atenção daquela organização às questões que realmente importam aos marítimos, além de um devaneio, considerando a real situação em que se encontra a nossa bandeira na atividade marítima.
Viva o 28 de dezembro!
Viva a Marinha Mercante brasileira!