A compra da Hamburg Süd pela Maersk impactou o nosso setor. Sem dúvida, transformou a Maersk em uma empresa de dimensão que até agora o mundo não havia visto igual. Serão 741 navios e 3,8 milhões de contêineres sendo transportados ao mesmo tempo. Essa quantidade de contêineres equivale a 60% do que o Brasil transporta ao longo de um ano. Seguramente, o mundo inteiro está preocupado com o que vai ocorrer.
No Brasil, os motivos de preocupação são maiores, pois a empresa resultante desta fusão, da Mercosul Line – Maersk com a Aliança – Hamburg Süd, tomará 80% do transporte de contêineres em nossas águas, na cabotagem. Localmente, o grupo começa com 14 navios próprios e mais 20 afretados, além da prática de intensa troca de espaços nos porões, especialidade da Aliança nesse negócio. O próprio usuário brasileiro do transporte aquaviário está preocupado com isso, pois terá menos opções para escolher e a falta de concorrência pode resultar em aumento dos preços.
Essa mega aquisição, que gera uma superpotência dos mares, vai na contramão do discurso de crise dos armadores no Brasil, ao negociarem os acordos coletivos de trabalho, tentando arrancar patamares muito baixos, abaixo inclusive da inflação. Mas, que crise é essa em que há espaço para aquisições desse porte e para novos investimentos? Que crise é essa, em que os preços da cabotagem continuam elevados?
É necessário fazer a distinção entre os preços da cabotagem e os da navegação de longo curso. Não há relação entre eles como os armadores tentam argumentar para convencer os companheiros marítimos. Na cabotagem, o navio compete com o caminhão, é uma escolha entre modais: o rodoviário ou o aquaviário. O navio não compete com outro navio. A disputa entre os modais terrestre e aquaviário é o que historicamente define os preços do frete em nossa cabotagem.
Desde 2008, com a crise mundial, a cabotagem brasileira passou de 4,5 milhões de contêineres transportados ao ano para mais de 6 milhões transportados atualmente. Que crise é essa, se a movimentação de contêineres foi mantida e expandida? Muito nos preocupa que nossos representados e representadas acreditem no discurso da Armação. Nós precisamos vencer esse discurso da crise, não há razão para assinarmos acordos coletivos de trabalho nos patamares que nos têm sido oferecidos, sem que recuperemos sequer a inflação acumulada. É uma crise que só existe no discurso e nas disposições dos armadores, uma crise que não existe e à cabotagem provavelmente nem chegará. Mas, a Armação pretende transportar esse discurso de crise para o nosso setor, no qual a crise não se aplica. Você, companheiro, companheira, precisa resistir a esse discurso. A cabotagem brasileira não sofreu redução de fretes, não há redução de movimentação em nenhum porto nacional, não há, portanto, razão para se indicar uma crise instalada em nosso setor.
Nossos representados e representadas precisam estar atentos às recomendações que fazemos em nossas mensagens circulares, pois temos a obrigação de conhecer melhor o cenário em que estamos mergulhados do que aqueles companheiros e companheiras que estão diuturnamente navegando em nossos mares, operando os seus navios. Vamos lutar juntos, vamos vencer juntos esse discurso, vamos mostrar a força que nós temos e continuar a trajetória de vitórias que acumulamos nos últimos anos. Juntos, somos mais fortes!
Severino Almeida Filho
Presidente do SINDMAR